"... dou conta (...) que não podemos vencer esta batalha para salvar espécies e ambientes sem criarmos um laço afetivo com a natureza, pois não lutaremos por salvar aquilo que não amamos (mas só apreciamos de um modo abstrato)"

Stephen Jay Gould, 1993



Cobra-de-água-de-colar

Durante uma das sessões de pesquisa de animais aquáticos, enquanto nos dirigíamos através de um prado húmido para uma zona em que se formaram alguns charcos temporários, tivemos a sorte de encontrar uma cobra-de-água-de-colar (Natrix natrix). Como é fácil de imaginar a excitação no grupo foi enorme, afinal era a primeira vez que os participantes puderam observar de perto uma cobra, animal com tão má fama e que desperta tantos medos entre a generalidade das pessoas.

Cobra-de-água-de-colar (Natrix natrix). Exemplar observado durante a saída de campo.

A cobra-de-água-de-colar é uma espécie inofensiva para o Homem. Tal como a maioria das espécies de serpentes que surgem em Portugal, esta espécie é aglifa (não possui dentes inoculadores de veneno).  As espécies opistoglifas, cobra-rateira (Malpolon monspessulanus) e cobra-de-capuz (Macroprotodun cucullatus) têm dentes inoculadores de veneno situados na região posterior do maxilar superior - no fundo da boca -, tornando muito pouco provável uma mordedura venenosa. Não apresentam perigosidade para o Homem. Somente a Víbora-cornuda (Vipera latastei) e a víbora-de-Seone (Vipera seoanei) são espécies potencialmente perigosas. Tratam-se de espécies solenoglifas (espécies que apresentam colmilhos, dentes inoculadores muito especializados situados na região anterior do maxilar superior).

Aparelhos inoculadores das serpentes.

 A cobra-de-água-de-colar é uma espécie que desenvolve a sua atividade tanto em meio aquático como em meio terrestre. É ágil, veloz e excelente nadadora. Deve o seu nome a um anel de cor branca ou amarela, a seguir à cabeça, que aparece na fase juvenil e depois vai-se esbatendo até desaparecer completamente. No exemplar que observámos este anel já era pouco visível.

Embora não venenosa e pouco agressiva, os elementos da equipa não lhe pegaram. Limitaram a tocar o seu corpo, fazendo-lhe carícias. Puderam observar atentamente as suas características, nomeadamente as escamas, os olhos - com pupila redonda -, e a língua bífida que nas cobras é um órgão olfativo.

Experiência única de tocar uma cobra, um animal tão mal afamado.
Observação das escamas epidérmicas.
Ninguém ficou de fora, todos quiseram experimentar a sensação de acariciar o animal. 


No final, lá deixámos a nossa amiga ir à vida dela. Com certeza apanhou um susto maior que o dos jovens investigadores!

No final, a cobra-de-água-de-colar foi devolvida ao seu meio.



Bilhete de identidade da cobra-de-água-de-colar:

 Nome científico: Natrix natrix;

 Filo: cordados;

Classe: répteis;

Comprimento: 100 - 120 cm (pode chegar aos 200 cm);

Habitat: bosques, prados e zonas agrícolas junto a cursos de água, charcos ou lagoas;

Dimorfismo sexual: pouco evidente,  as fêmeas atingem um maior comprimento; 

Alimentação: invertebrados, anfíbios e peixes. Ocasionalmente pode também alimentar-se de pequenos mamíferos e répteis;

Distribuição:  Europa, norte de África e Ásia ocidental.



Identificação das espécies capturadas

Depois de capturados, os animais foram identificados pelos elementos das três equipas. Esta fase do trabalho implicou uma cuidada observação das suas características, pois só assim foi possível concluírem a que espécies pertenciam.

Observação de um tritão adulto.

Observação das brânquias externas de uma larva de tritão.

Fase de identificação das espécies capturadas.


Como foi já referido, a identificação dos animais foi realizada através de guias de campo. Esta fase do trabalho implicou discussão entre os grupos a fim de se chegar a um consenso final sobre a espécie a que cada um pertencia. Embora realizado em autonomia, este processo foi devidamente supervisionado.

Utilização de guias de campo para a identificação das espécies capturadas.

A identificação dos animais é um trabalho por vezes complexo, algumas das espécies diferem em pequenos pormenores.


No final do trabalho, os elementos do clube, depois de pegarem cuidadosamente nalguns dos animais e lhes fazerem carícias, devolveram todos ao seu meio natural.

Manipulação cuidadosa de tritões adultos.

Libertação dos animais estudados. 

Devolução ao meio dos animais em que não era conveniente a sua manipulação.


No final deste projeto, estudo de espécies aquáticas da região envolvente da Ribeira de Canelas, foram as seguintes as espécies identificadas:

- Tritão-de-ventre-laranja (Triturus boscai)  [Ver aqui]
- Tritão-palmado (Triturus helveticus)
- Rã-verde (Rana perezi)  [Ver aqui]
- Cobra-de-água-colar (Natrix natrix)
- Escorpião-de-água (Nepa cinerea)  [Ver aqui]
- Escaravelho-aquático (Gyrinus substriatus)


Nota: algumas das espécies foram já referidas no site, basta clicar no link para visualizar; as que não tinham sido ainda identificadas serão alvo de publicação posterior.



De volta ao campo

Abril: tempo de chuva, tempo de anfíbios.

É sabido que o tempo húmido é o ideal para se observar anfíbios. O mês de abril trouxe finalmente chuva em abundância. Pequenas linhas de água que alimentam a Ribeira de Canelas engrossaram os seus caudais. Surgiram, também, alguns charcos temporários na região envolvente da Ribeira. Não podíamos perder esta a oportunidade para investigar espécies aquáticas.

Região envolvente da Ribeira de Canelas onde realizámos o trabalho de campo.  



Para realizarmos o trabalho de pesquisa usámos redes. Estas permitiram a captura das espécies aquáticas. Os animais foram colocados em frascos de vidro. Em alguns casos as espécies tiveram que ser separadas em frascos diferentes para se evitar predação e morte entre os animais capturados.

Prospeção de espécies aquáticas num charco temporário.



Captura de larvas de tritão.


Pesquisa de animais aquáticos em linha de água afluente da Ribeira de Canelas.


Observação de animais aquáticos num pequeno curso de água.



Dia de Clube, dia de boa disposição e aventura! 

A fase seguinte do trabalho consistiu em identificar as espécies capturadas. Bom, mas isso ficará para uma próxima ocasião!